a memória é a carne cortada
nas costas da gente
sangrando lentamente
espalhando um cheiro forte, um fio de vida
e a memória é o pó
que grão a grão se senta um no outro
tempo após tempo
num movimento mudo
a memória também é o tom laranja do pensamento
quando a boca sorri espontânea
o cheiro daquele beijo
consagrado em maio
se a memória mais não fosse
seria só o quente que instiga
a abir tempos dobrados e guardados
na caixa em que se lê: mudança
a memória é o eco do som
gemido num agudo si maior
arrastado como dor na garganta
naquele segundo que foi eterno
a memória também teima ser
aquilo que a cabeça evita
o corpo sua
e o coração retumba.
domingo, 5 de janeiro de 2014
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