sexta-feira, 30 de novembro de 2012

OCRE
Hoje meus sonhos são dízimas, periódicas.

domingo, 16 de setembro de 2012

DESCONFIA (ou “Aos 11 anos de idade eu já desconfiava da verdade absoluta...” Raul Seixas)

Desconfie da televisão
            do sorriso amarelo que te pede conformação
Desconfie do Estado
           cuja política te deixa de lado
Desconfie das constituições
           feitas por indivíduos com diferentes intenções
Desconfie do ladrão
           que te rouba para comprar o pão
 Desconfie da morte pela fome
           sem direitos, sem deveres e sem nome
Desconfie do capital
           que te faz número sem nem pensar se isso te faz mal
Desconfie da falta de criticidade
           que te obriga a aceitar tudo como se fosse verdade
Desconfie de você mesmo pelo menos uma vez ao dia
            por que a desconfiança é a arte de entoar os mesmos versos
            mas em outras melodias

sexta-feira, 27 de abril de 2012

vida é processo
carimbe o papel com beijo
empenhe-se para que os projetos não sejam básicos
insira poemas no meio das notas
informe o recurso mais valioso, (inclusive o desnecessário)
assine como quem autografa
remeta às siglas apenas se estas formam palavras sonoras
leia a fl. 4,3333 como quem recita
despache querendo receber de volta
torcendo para ter autorização expressa
DE VIVIER MAIS LIVRE

terça-feira, 13 de março de 2012

para não parar

para os mesmos problemas
novas soluções
para as velhas brigas
outras relações
para as mesmas doenças
elixir de ânimo
para o mesmo destino
outros caminhos
para a mesma canção
um novo instrumento
para a mesma língua
outros sotaques
para o mesmo projeto
outro país
para aplacar o medo de ir
somente o medo maior de ficar

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O QUE SE ESPERA?

o que você espera
quando me cobra
algo que espera
ser dado sem cobrar?

quem é que oferece
carinho sincero
amor amigo
atenção e afeto
por preço acertado
pagamento adiantado
promissórias a pagar?

por que se atreve
a pensar que é seu
bem aquilo que o outro
nunca tem para te dar?

olha com atenção
o que carrega
a mão que estendida
oferece o que pode dar

se não te basta
se não te agrada
se tão te satifsfaz
busca outra mão
com outra oferta
que seja dada sem cobrar

mas espero, sincera
que o pouco que se apresenta
te sirva de fato
não para te preencher
se não para te alegrar

o afeto que tenho
não despejo inteiro
mas é verdadeiro
e quero fazer durar

não te complemento
não sou seu inteiro
nem tento fazê-lo
sou apenas eu
aqui do jeito meu
mas sem te cobrar

aquela casa

ainda habito um pouco naquela casa
naqueles poucos móveis
no cheiro do cigarro
nas roupas espalhadas
no banheiro verde retrô
na cozinha apertada

deixei naquela casa
algumas aspirações dos vinte e poucos anos
a rotina desregrada da chegada e saída
o braulho da rua
coisas e pessoas que lá, e só lá, cabiam

daquela casa
moram hoje comigo
a confiança de que não se morre de amar
a alegria de me saber muitas
o sentido de se dar adeus às casas
a certeza de saber, finalmente, de que lá fui feliz

moro naquela casa, como ela ainda mora comigo